sexta-feira, julho 11, 2008

quinta-feira, julho 03, 2008

Sobre ser mulher (3)


© Enigmatuz

Todos os dias é dia da mulher, é dia da mulher qd uma mulher quiser ( apesar de nem todos os dias o senhor do cafézinho me oferecer uma rosa com o meu café matinal ) , retenho para mim a intenção bonita que é a de dar em pureza.

Quantas discussões e maus tratos são hoje mascarados com flores?

É sempre importante fazer ressaltar preocupações comuns à mulher:

- a luta contra o cancro da cama ( 2ª causa ou 1ª, não sei ) de morte (ainda!) em mulheres com mais de 45 anos;

- a violência doméstica existente em qq estrato social;

- alguma discriminação que ainda existe, até entre as próprias mulheres....


E agora ,
outra rosa.....


Se eu fosse apenas uma rosa,
com que prazer me desfolhava,
já que a vida é tão dolorosa
e não te sei dizer mais nada!

Se eu fosse apenas água ou vento,
com que prazer me desfaria,
como em teu próprio pensamento
vais desfazendo a minha vida!

Perdoa-me causar-te a mágoa
desta humana, amarga demora!
- de ser menos breve do que a água,
mais durável que o vento e a rosa...

Cecília Meireles

quarta-feira, julho 02, 2008

terça-feira, julho 01, 2008

Sobre ser mulher


A mulher afirma-se pela fala, tem uma capacidade de verbalização característica, tanto pela positiva, como pela negativa. Como o homem sabe disso, manda-a calar. O falar parece ser, às vezes, uma substituição do pensar, mas não: trata-se da expressão de um pensar. Há um pensar que leva a agir, um pensar que leva a falar, um pensar que leva ao silêncio. Esse é o pensar profundo que se transforma em acto e obra. A tagarelice é o pensar que não assentou.

A tradição obrigou a mulher a ficar dentro de uma caixa de vidro na qual era visível, mas não audível. Então ela falou desesperdamente, mas sem qualquer efeito. Quando partiu essa prisão de vidro, a sua voz transformou-se num acto revolucionário. A mulher moderna é o efeito dessa explosão, da saída da clausura que é a casa, a família, a beleza obrigatória. Quando toma a palavra, rompe essa teia que a envolvia numa rede de silêncio e de idealização. A mulher não é a Eva, representativa da origem do mal da humanidade, nem a figura platónica que o petrarquismo elevou a ídolo.

No tempo actual, a voz da mulher junta-se ao coro de vozes discordantes da humanidade, tendo outras raízes - é uma flor gritante que vai dar frutos, mas tem de se aperceber disso e pensar melhor na relação com o Outro. Já nenhuma parede de vidro a protege. Agora, o diálogo das vozes é um novo e duro corpo a corpo: uma batalha que se desenha. E, no fundo, ela quer vencer, ser uma nova Amazona, mas não deseja perder um seio. Nem deve. Não deve perder a feminilidade, a singularidade do seu ser, a origem da sua criação específica. O seu contributo é o do espírito. Mesmo quando se transforma em acto, a sua mão não deve esquecer-se de que existe para colher e acolher. Essa é a capacidade específica da mulher: produzir, mas não reproduzir apenas. E o homem não pode ser o seu modeli.

O homem acusa a mulher de não pensar com a mesma estruturação que ele, como se isso fosse um defeito. Essa atitude masculina pressupõe que o sistema criado por ele é o único válido. A mulher tem a capacidade de compreender no concreto, de relacionar. Tem aí uma nova palavra a dizer.

Não sou feminista. Sou antropologicamente lúcida.

Ana Hatherly